domingo, 11 de julho de 2010

NYC Cinemas

Depois de shows e exposições, a terceira coisa que eu mais procuro fazer em Nova York é ver filmes. Na verdade, eu gostaria de ir muito mais ao cinema, mas os ingressos saem caro (sou pobre, é verdade, e pirangueiro), pois custam entre 10 e 15 dólares cada (em reais, fica quase o dobro). Por causa disso, procuro ir apenas ao MoMA (Museum of Modern Art), onde posso assistir a tudo de graça. Outra opção grátis são as projeções ao ar livre que ocorrem no verão, geralmente com clássicos antigos e mais recentes (um dos parques vai passar Labirinto, com David Bowie, e Dead Man, de Jim Jarmusch, enquanto outro projetará Godard).
Nova York tem, com certeza, uma das melhores programações de cinema do mundo, comparável a Paris (nunca fui a Londres). Além dos multiplex comerciais de todos os tamanhos, com os 3D e Imax da vida, aqui há pequenos institutos (cada um com várias salas de projeção) que exibem filmes estrangeiros, independentes, experimentais e clássicos de todas as épocas (desde o cinema mudo até hypes recentes dos anos pós-2000, sempre com boa projeção em película). Fui a dois desses templos: IFC Center (onde assisti ao ciclo do Cremaster completo) e ao Sunshine (onde vi Pink Flamingos em uma sessão à meia-noite). Curiosidades do mundo animal: Ontem, vi uma mulher com um cachorro dentro do cinema, assistindo a um filme junto com ele.



Com pentelhos azuis, canibalismo e degustação de cocô, Pink Flamingos, de John Waters, é um dos filmes historicamente mais associados ao termo "escatologia" (seja lá o que isso signifique, pois, afinal,  o que é mais grotesco: uma guerra ou sexo explícito?). Lançado em 1972, estrelado pela super-heroína Divine, o longa me dá a impressão de que os dias de hoje são bem mais conservadores do que aquela época. A sessão começou à meia-noite e terminou às duas da madrugada, com sala lotada. A plateia aplaudiu já na primeira cena, quando o título apareceu na tela.


Quando vi que Cremaster estava em cartaz, comprei os ingressos na mesma hora. Ao todo, são mais de seis horas de duração, divididas em cinco capítulos. Fui três vezes ao cinema, na mesma semana, para ver tudo. Os cinco filmes foram dirigidos pelo artista plástico Matthew Barney, que também interpreta vários personagens. Cada capítulo foi lançado em anos diferentes, entre 1994 e 2002. As projeções ocorriam em museus, onde era possível ver os objetos de cena em exposição. Agora, resolveram lançar no circuito cinematográfico, mas já anunciaram que o material nunca estará disponível em DVD.




Ao longo do ciclo, Barney constrói uma mitologia própria ao combinar todo tipo de referência que nascer de sua imaginação. Os recursos do cinema permitem que ele materialize na tela qualquer delírio visual. Na mesma narrativa, se mesclam esportes radicais, rock pesado, balé, ópera, cultura automobilística, rodeios, paisagens arrebatadoras, animais, pornografia, criaturas monstruosas (o trabalho de maquiagem é uma obra de arte à parte), seres antropozoomórficos, estádios, arquitetura modernista, zepelins, abelhas, cavalos vivos sem couro, assassinos, ilusionismo, escultura, desenho, performance, substâncias viscosas e todo um universo sensorial saído da cabeça do artista, com tudo devidamente fundamentado (como gostam os academicismos da arte contemporânea) e ao mesmo tempo aberto a interpretações. Vejam algumas fotos e o trailer:


Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=R_aZQffIBw0&feature=related

No MoMA, tenho assistido mais a filmes antigos, que nunca tive a oportunidade de ver no cinema, como Viagem à Itália, de Rosselini, Viagem à Lua, de Mélies, Faces, de Cassavetes, e Arsenal, de Dovzhenko.

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